Ela era uma saudosista do presente.
Olhava os campos repletos de cevada e girassóis, todos ficando para trás conforme o carro avançava na velha estrada que ligava o rural ao urbano. "Quem sabe, vejo vocês depois", pensava enquanto o vento batia selvagem das maçãs do rosto. Ela podia jurar que estava voando.
Debruçou-se sobre a janela da porta desejando que de lá fosse possível ver melhor a grama que a aguardava dali um quilômetro. Já sentia o cheiro molhado de pós-chuva. Céus, como gostava daquele cheiro. Era como sentir seu espírito exalar palavras em forma de perfume, e o perfume preenchia seu corpo todo.
Enfim o carro alcançou o campo nu. Lá não havia gado, nem cevada, nem girassóis. Só havia grama verde. E uma árvore. Com folhas penduradas. Azuis. Pediu que o carro fosse parado, então desceu e olhou o tronco ornamentado sem o redor do vidro do carro que enquadrava desmerecidamente a paisagem. Os pés começaram e andar, depois correr em direção à árvore. As pernas então começaram a se alternar rápido demais, e pela segunda vez ela teve certeza de que estava voado. Corria, corria, e as pegadas deixavam para trás o perfume escondido dentro dela.
"Dez metros. Cinco metros. Cheguei." Estacionou o corpo e olhou para cima.
A claridade da manhã fez com que seus olhos lacrimejassem. As lágrimas chegaram em boa hora: já estava próxima de chorar de qualquer forma. Viu o escrito com canivete no tronco: "Você me ensinou a viver - Alex". No silêncio mortal, todos os detalhes se encaixaram, numa explosão de intuição. Engoliu a garganta para não chorar mais.
Cada flor azul era um de seus sonhos: sonhos de criança, sonhos de moça, sonhos possíveis, sonhos murchos caídos sobre o chão. A única flor viva era aquela que simbolizava seu sonho de morar na cidade. Era difícil demais aceitar que não poderia mais ter aquela brisa mansa no rosto, os campos de girassol, a grande árvore que a acolheu a vida toda. Principalmente, era difícil se conformar com nunca mais poder passar as tardes na varanda.
De repente, bateu no peito uma graça sem origem. A cabeça viajava em um orgasmo límpido, puro de tamanha inocência, e ela não conseguia dizer o porquê de estar sedada. A consciência apenas lhe deu o impulso no braço para pegar a flor, então ela sentou com as costas contra o tronco, cheirando o planta.
Ouviu o carro buzinar em seguida. "O que faço aqui?", se perguntou. Olhou para as palmas das mãos e encontrou uma flor azul. Levantou-se e caminhou até o carro, meio que boba, cambaleando bêbada da recente explosão de graça. A flor nas mãos, a cabeça no céu. Sentou-se sobre o banco do carro, e deu a flor para o motorista.
"Podemos ir, Alex", ela disse. O carro então acelerou, deixando para trás a cevada, os girassóis, a brisa mansa e parte de seu perfume. Tinha a sensação de que ia sentir saudade daquilo que estava sentindo, mesmo não sabendo o que era.
Olhava os campos repletos de cevada e girassóis, todos ficando para trás conforme o carro avançava na velha estrada que ligava o rural ao urbano. "Quem sabe, vejo vocês depois", pensava enquanto o vento batia selvagem das maçãs do rosto. Ela podia jurar que estava voando.
Debruçou-se sobre a janela da porta desejando que de lá fosse possível ver melhor a grama que a aguardava dali um quilômetro. Já sentia o cheiro molhado de pós-chuva. Céus, como gostava daquele cheiro. Era como sentir seu espírito exalar palavras em forma de perfume, e o perfume preenchia seu corpo todo.
Enfim o carro alcançou o campo nu. Lá não havia gado, nem cevada, nem girassóis. Só havia grama verde. E uma árvore. Com folhas penduradas. Azuis. Pediu que o carro fosse parado, então desceu e olhou o tronco ornamentado sem o redor do vidro do carro que enquadrava desmerecidamente a paisagem. Os pés começaram e andar, depois correr em direção à árvore. As pernas então começaram a se alternar rápido demais, e pela segunda vez ela teve certeza de que estava voado. Corria, corria, e as pegadas deixavam para trás o perfume escondido dentro dela.
"Dez metros. Cinco metros. Cheguei." Estacionou o corpo e olhou para cima.
A claridade da manhã fez com que seus olhos lacrimejassem. As lágrimas chegaram em boa hora: já estava próxima de chorar de qualquer forma. Viu o escrito com canivete no tronco: "Você me ensinou a viver - Alex". No silêncio mortal, todos os detalhes se encaixaram, numa explosão de intuição. Engoliu a garganta para não chorar mais.
Cada flor azul era um de seus sonhos: sonhos de criança, sonhos de moça, sonhos possíveis, sonhos murchos caídos sobre o chão. A única flor viva era aquela que simbolizava seu sonho de morar na cidade. Era difícil demais aceitar que não poderia mais ter aquela brisa mansa no rosto, os campos de girassol, a grande árvore que a acolheu a vida toda. Principalmente, era difícil se conformar com nunca mais poder passar as tardes na varanda.
De repente, bateu no peito uma graça sem origem. A cabeça viajava em um orgasmo límpido, puro de tamanha inocência, e ela não conseguia dizer o porquê de estar sedada. A consciência apenas lhe deu o impulso no braço para pegar a flor, então ela sentou com as costas contra o tronco, cheirando o planta.
Ouviu o carro buzinar em seguida. "O que faço aqui?", se perguntou. Olhou para as palmas das mãos e encontrou uma flor azul. Levantou-se e caminhou até o carro, meio que boba, cambaleando bêbada da recente explosão de graça. A flor nas mãos, a cabeça no céu. Sentou-se sobre o banco do carro, e deu a flor para o motorista.
"Podemos ir, Alex", ela disse. O carro então acelerou, deixando para trás a cevada, os girassóis, a brisa mansa e parte de seu perfume. Tinha a sensação de que ia sentir saudade daquilo que estava sentindo, mesmo não sabendo o que era.
Escrito por Letícia(diva)do blog Letícia Gomes Diário. Conto lindo, por isso quis compatilhar com vocês.