DESERTO

24 dias no deserto, comendo sardinha enlatada. Andava desorientado, sem rumo, em meio aquele deserto. Estava sujo, fedido. Os machucados, causados pela bomba caseira já haviam cicatrizados. Agora, podia sentir a torção do meu ombro. A pequena mala, com um conteúdo ao valor de 15kg aparentavam ter muito mais. A comida fedia, e eu, não aguentava mais estar perdido.

Andei, andei e andei. Pude observar que não andava em círculos. Passava por vários tipos de plantas que nunca teria visto antes. Quando observava um lagarto, percebi um papel embrulhado. Fiquei com medo de ser alguma arma, mas, a inocência do papel me levou a ele. Desembrulhei e vi que era uma carta, com destinatário a mim e remetente de minha mãe.

- Que seja doce essa carta! Que me traga algo perdido! Falei enquanto passava os dedos sobre o papel e tentava sentir o cheiro de casa.

''Filho, não desistiremos de te procurar. NUNCA. Minha intuição materna me liga a fios de ouro a você. Sei que você está bem, e que ser escoteiro ajudou em algo. Filho, não caia, não se desanime. Tudo dará certo.  Um avião de busca ONU atrás de você e tenho certeza que eles te encontrarão! Te amo!"

Uma mera carta não faria diferença pra você? Faria? Pois bem, achava cartas cafonas e sem sentido. Agora, eu sei a importância de algo escrito por alguém que você ama, com a caligrafia dela. E saber que ela acredita em mim, mudou tudo naquele momento! Pelos meus estudos de geografia não estava longe de Cairo, capital do Egito. As esperanças voltaram, mas logo desmaiei, sardinhas podres não eram energéticos.

Acordei, em uma sala, cheia de pessoas falando uma língua desconhecida. Levantei-me e me coloquei a frente de uma escrivaninha e ao lado de um telefone. Peguei o telefone e disquei para o número da Força Aérea Egipcia. Logo alguém atendeu e o informei a minha localização. Logo, um helicóptero veio me buscar e me levou para a Embaixada do Brasil. Os funcionários da Embaixada brasileira me transportaram para o Rio de Janeiro, onde encontrei toda minha família.